Antologia Travessia: Literatura para atravessar o fascismo

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Ao pensar a ANTOLOGIA TRAVESSIA: LITERATURA PARA ATRAVESSAR O FASCISMO, a primeira ideia que se me sobressaltou foi a exclusão de exigência temática, a liberdade de criação de um novo horizonte, e essa é possivelmente a força de enfrentamento de que precisamos para atravessar esses desertos que, como diria Alberto da Cunha Melo, vão ser bem longos/e não merecidos. O fascismo, pulsão de morte em todas as instâncias, tem como princípio a falta de criação, pois como só existe para matar e ser morto, não há nele o ócio, que cria, o desejo, que cria, o gozo, que cria; é sempre anulação-anulação. O fascismo é parte da morte. Já a literatura, na contramão do fascismo, é ócio, depois desejo, ativação, depois gozo, depois ócio – a literatura é, por excelência, a criação de vidas possíveis com estrutura de vida, afinal, vida é ócio, desejo, gozo, ócio. A literatura é parte da vida. E as autoras e autores que se dispuseram a fazer parte desta antologia fizeram questão tanto de afundar a barca do fascismo, atravessando-o ao meio, partindo-o ao meio, e assim, conseguiram ver, através das lentes de suas criações, o barco do fascismo afundando, a maré do fascismo evaporando com disparo da luz lírica.